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Quero deixar claro que não sou engenheiro de alimentos e não tenho nenhum conhecimento avançado sobre o assunto. Sou apenas um padeiro amador que, uma vez ou outra, gosta de comprar farinhas importadas para fazer pães em casa 😉

Em geral, as farinhas são classificadas de acordo com o refino do grão (mais fino ou mais grosso) e o teor de cinzas, que é a quantidade de sais minerais presentes na farinha. Esses minerais estão concentrados na parte externa do grão do trigo, então, quanto mais farelo presente na farinha, maior será seu teor de cinzas.

Brasil

Até 1990, a produção de farinha de trigo no Brasil era monopólio do Estado, que buscava, sem sucesso, a autossuficiência do trigo. A compra de trigo importado só era permitida na ausência do produto nacional e o foco era quantidade e não qualidade. Por isso, a farinha brasileira possui somente 3 tipos de classificação, bem diferente de outros países, como você verá a seguir.

Atualmente a indústria brasileira observa às mudanças de hábito do consumidor, mas a demanda por farinhas de qualidade ainda é considerada um nicho de mercado.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína
Tipo 1 Uso geral, para massas frescas, para confeitaria e para panificação 7,5%
Tipo 2 Mais amarelada, dificilmente encontrada em mercados e mais utilizada pela indústria, para produção de biscoitos 8,0%
Farinha Integral 8,0%
Tipo 1 com fermento Farinha de trigo misturada com fermento químico, indicada para bolos 7,5%

Itália

A classificação da farinha italiana segue a numeração 00, 0, 1 e 2.  Ela é baseada na teor de cinzas e no grau de moagem.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação dos EUA
Farina di grano tenero tipo 00 Confeitaria 9% 0,55% pastry flour
Farina di grano tenero tipo 0 Pães, pizzas, massas frescas e brioches 11% 0,65% all-purpose flour
Farina di grano tenero tipo 1 Pães artesanais e rústicos 12% 0,80% high gluten flour
Farina di grano tenero tipo 2 12% 0,95% first clear flour
Farina integrale di grano tenero Massas e pães integrais 12% 1,70% white whole wheat

Argentina

Na Argentina e em muitos países da América do Sul, excluindo o Brasil, a classificação da farinha segue uma sequência de zeros e não está relacionada com os zeros das farinhas italianas, a farinha 00 argentina é totalmente diferente da 00 italiana.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação dos EUA
0000 Confeitaria 0,49% pastry flour
000 Panificação, bolos e tortas 0,65% all purpose flour
00 Panificação 0,80% high gluten flour
0 Pães artesanais e rústicos 1,10% first clear flour
½ 0 Massas e pães integrais 1,50% white whole wheat

Estados Unidos

Nos Estados Unidos e no Reino Unido são utilizados nomes padronizados para cada tipo de farinha, não existem números de classificação.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação do Reino Unido
pastry flour Confeitaria 9% 0,4% soft flour
all-purpose flour Pães, pizzas, bolos e tortas 11% 0,55% plain flour
high gluten flour Panificação 14% 0,8% strong or hard
first clear flour Farinha mais escura, com alto teor de farelo. Muito utilizada na culinária judáica 15% 1,1% very strong or hard
whole wheat flour Massas e pães integrais 13% 1,5% wholemeal

Alemanha

Os números das farinhas alemãs (mehltypen) indicam o teor de cinzas de cada produto. Existem também uma numeração própria para farinhas de espelta (630, 812 e 1050) e de centeio (1370, 1740 e outros).

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação dos EUA
Tipo 405 Confeitaria 0,50% pastry flour
Tipo 550 Bolos, tortas e panificação 0,63% all-purpose flour
Tipo 812 Panificação 0,90% high gluten flour
Tipo 1050 Panificação artesanal 1,20% first clear flour
Tipo 1600 Massas e pães integrais 1,80% white whole wheat
Durumweizenmehl Type 1600 Farinha de semolina 1,85%

França

Os números das farinhas francesas também indicam o teor de cinzas (em miligramas) mas usando como referência 10 g de farinha e não 100 g. Sendo assim, eles são um fator decimal baixo dos tipos alemães.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação dos EUA
T45 Confeitaria 9% 0,50% pastry flour
T55 Bolos, tortas e croissants 11% 0,60% all-purpose flour
T65 Panificação 0,75%
T70 Panificação 0,80%
T80 Panificação 14% 0,90% high gluten flour
T110 Panificação 15% 1,20% first clear flour
T150 Massas e pães integrais 13% 1,50% white whole wheat

Portugal

A classificação da farinha portuguesa é bem semelhante ao padrão francês.

Denominação Indicação de uso Teor mín. de proteína Teor máx. de cinzas Equivalência com a classificação dos EUA
Tipo 45 – Farinha Flor Confeitaria pastry flour
Tipo 55 – Farinha Super Fina Bolos e tortas all-purpose flour
Tipo 65 – Farinha Fina Panificação high gluten flour
Tipo 80, Tipo 110  – Farinha Semi-integral Panificação first clear flour
Tipo 150 – Farinha Integral Massas e pães integrais white whole wheat
Farinha Autolevedante Farinha de trigo misturada com fermento químico, indicada para bolos

E lembre-se dessa dica valiosa do chef Sauro Scarabotta do restaurante Friccò: “Brinque de mudar a farinha depois que você domina a receita. Senão, nunca vai saber se o problema é a sua falta de experiência ou a qualidade da farinha.”

Referências